Astronomia e religião nos templos romanos de Qsar Naous (Ain Akrine, Líbano)
DOI:
https://doi.org/10.24215/26840162e010Palavras-chave:
arqueoastronomia, templos romanos, religião romana, arqueologia do Líbano, oriente médio romanoResumo
A cerca de 30 quilômetros ao norte de Biblos, os dois templos romanos de Qsar Naous (Ain Akrine, Líbano) estão situados no topo de uma colina a 700 metros acima do nível do mar, na crista do Monte Líbano, com vista para o vale de Al-Koura ao leste e o Mediterrâneo ao oeste. Os templos de Qsar Naous, que provavelmente se desenvolveram sobre um local de culto anterior, compartilham características arquitetônicas com vários santuários da mesma época presentes em outras regiões do Líbano. Além disso, os lintéis dos propileus (portão de entrada) de ambos os templos de Qsar Naous incorporam simbologia celeste. Apresentam decorações com relevos de discos solares, que aparecem em outros templos romanos do Líbano, como o de Chhim, e que sugerem uma dedicação solar.
Embora a localização elevada e a boa visibilidade tenham sido fatores-chave para a criação desta paisagem sagrada, a análise arqueoastronômica oferece resultados interessantes que podem relacionar o complexo sagrado com fenômenos astronômicos vinculados a eventos religiosos ou produtivos relevantes nesta região na Antiguidade. Este trabalho apresenta um estudo sobre as orientações dos dois templos romanos de Qsar Naous e sua relação com a paisagem circundante. Os dados foram coletados in situ na primavera de 2018 e revelam conexões interessantes entre o design e a localização desses templos com elementos topográficos proeminentes e momentos relevantes do ciclo solar, o calendário religioso e as atividades produtivas.
Especificamente, esses templos seguem o padrão geral de orientações encontradas nos monumentos gregos e romanos em direção ao leste e se orientam para eventos astronômicos importantes, como o nascer do sol no solstício de verão e, provavelmente, a primeira visibilidade das Plêiades. As menções às Plêiades aparecem em fontes gregas, bem como em outras referências do Oriente Médio, e o solstício de verão representava um momento geral de renovação em todo o Mediterrâneo. Curiosamente, esses resultados coincidem com orientações encontradas anteriormente em monumentos antigos do Mediterrâneo e em outros templos romanos do vale libanês de Bekaa, como o templo de Baco e Júpiter Heliopolitano em Baalbek e o grande templo de Niha, ao sul de Ain Akrine. Além disso, estudos anteriores realizados no Monte Líbano revelam várias formas de continuidade cultual desde o período helenístico até o romano, sugerindo que os monumentos romanos podem ter sido construídos sobre restos anteriores.
Nesse sentido, os resultados deste estudo fornecem pistas sobre a natureza, mas também sobre a origem, dos cultos realizados em Qsar Naous, as diferenças entre as divindades adoradas em cada templo, ou os processos de transformação dos ritos e crenças anteriores. Em conclusão, oferece-se uma abordagem local para uma melhor compreensão do complexo contexto religioso do Oriente Médio romano.
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