Astronomia e Cultura no Caminho de Santiago
DOI:
https://doi.org/10.24215/26840162e003Palavras-chave:
Páscoa, Camino de Santiago, iconografia, equinócio, românicoResumo
Como resultado do desenvolvimento religioso, social e político da transição do primeiro para o segundo milênio, surgiu um estilo artístico e arquitetônico, mais tarde conhecido como “românico”, que se espalharia pela Península Ibérica entre os séculos XI e XIII. Durante este período, muitos recursos foram investidos na construção de igrejas e mosteiros, especialmente nas regiões atravessadas pelo Caminho de Santiago. Este último seguia as vias de comunicação existentes entre os diversos reinos cristãos da época, embora a sacralização do local fosse influenciada pelo crescente culto às relíquias e pelas peregrinações.
Sendo este estilo arquitetônico tão prolífico no norte da península, e especialmente no Caminho, o estudo estatístico de seus padrões de orientação poderia fornecer informações sobre as possíveis semelhanças e diferenças entre as regiões cristãs, assim como o potencial uso da rota jacobeia como entrada e via de propagação das novas correntes provenientes da Europa.
Ao percorrer o Caminho Francês através de suas igrejas românicas, foi possível observar numerosos exemplos de iconografia astral, desde tímpanos decorados com o sol, a lua e as estrelas, até portais com zodíacos com um possível simbolismo solar, sem esquecer as lendas em torno do Apóstolo que envolvem elementos do céu, como a Via Láctea. Essas decorações e lendas destacam a importância do céu e seus corpos celestes nas crenças religiosas da época.
As igrejas também forneceram, graças à análise arquiastro-nômica de suas orientações, uma série de conclusões fundamentais. Vistas em conjunto, as igrejas românicas estudadas apresentam dois padrões principais de orientação. A Páscoa aparece como o principal ponto de orientação, tanto para o nascer quanto para o pôr do sol. Trata-se de uma festividade crucial no calendário litúrgico cristão que parece se refletir na construção desses locais sagrados nos séculos do românico. Em segundo lugar, está o equinócio, seja eclesiástico ou astronômico. No entanto, as orientações equinociais estão predominantemente presentes nos antigos reinos de Leão e Navarra, enquanto a Páscoa aparece com mais ou menos predominância em cada reino.
Tais diferenças e semelhanças abrem espaço para avaliar a influência das tradições locais anteriores, das novas correntes externas e até mesmo a introdução gradual da liturgia romana na Península Ibérica.
A perspectiva da astronomia cultural sobre o Caminho de Santiago permitiu valorizar um aspecto até então desconhecido desse paisagem cultural sagrado, conferindo às igrejas românicas da rota uma dimensão astronômica até agora despercebida, e proporcionando uma visão inovadora sobre os possíveis intercâmbios culturais e religiosos que ocorreram entre os diferentes reinos cristãos da Península Ibérica durante a época do românico.
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