Astronomia e Cultura no Caminho de Santiago

Autores

  • Maitane Urrutia-Aparicio Instituto de Astrofísica de Canarias, Universidad de La Laguna, España
  • A. César González-García Instituto de Ciencias del Patrimonio, España
  • Juan A. Belmonte Instituto de Astrofísica de Canarias, Universidad de La Laguna, España

DOI:

https://doi.org/10.24215/26840162e003

Palavras-chave:

Páscoa, Camino de Santiago, iconografia, equinócio, românico

Resumo

Como resultado do desenvolvimento religioso, social e político da transição do primeiro para o segundo milênio, surgiu um estilo artístico e arquitetônico, mais tarde conhecido como “românico”, que se espalharia pela Península Ibérica entre os séculos XI e XIII. Durante este período, muitos recursos foram investidos na construção de igrejas e mosteiros, especialmente nas regiões atravessadas pelo Caminho de Santiago. Este último seguia as vias de comunicação existentes entre os diversos reinos cristãos da época, embora a sacralização do local fosse influenciada pelo crescente culto às relíquias e pelas peregrinações.

Sendo este estilo arquitetônico tão prolífico no norte da península, e especialmente no Caminho, o estudo estatístico de seus padrões de orientação poderia fornecer informações sobre as possíveis semelhanças e diferenças entre as regiões cristãs, assim como o potencial uso da rota jacobeia como entrada e via de propagação das novas correntes provenientes da Europa.

Ao percorrer o Caminho Francês através de suas igrejas românicas, foi possível observar numerosos exemplos de iconografia astral, desde tímpanos decorados com o sol, a lua e as estrelas, até portais com zodíacos com um possível simbolismo solar, sem esquecer as lendas em torno do Apóstolo que envolvem elementos do céu, como a Via Láctea. Essas decorações e lendas destacam a importância do céu e seus corpos celestes nas crenças religiosas da época.

As igrejas também forneceram, graças à análise arquiastro-nômica de suas orientações, uma série de conclusões fundamentais. Vistas em conjunto, as igrejas românicas estudadas apresentam dois padrões principais de orientação. A Páscoa aparece como o principal ponto de orientação, tanto para o nascer quanto para o pôr do sol. Trata-se de uma festividade crucial no calendário litúrgico cristão que parece se refletir na construção desses locais sagrados nos séculos do românico. Em segundo lugar, está o equinócio, seja eclesiástico ou astronômico. No entanto, as orientações equinociais estão predominantemente presentes nos antigos reinos de Leão e Navarra, enquanto a Páscoa aparece com mais ou menos predominância em cada reino.

Tais diferenças e semelhanças abrem espaço para avaliar a influência das tradições locais anteriores, das novas correntes externas e até mesmo a introdução gradual da liturgia romana na Península Ibérica.

A perspectiva da astronomia cultural sobre o Caminho de Santiago permitiu valorizar um aspecto até então desconhecido desse paisagem cultural sagrado, conferindo às igrejas românicas da rota uma dimensão astronômica até agora despercebida, e proporcionando uma visão inovadora sobre os possíveis intercâmbios culturais e religiosos que ocorreram entre os diferentes reinos cristãos da Península Ibérica durante a época do românico.

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Publicado

2024-09-26

Como Citar

Urrutia-Aparicio, M., González-García, A. C., & Belmonte, J. A. (2024). Astronomia e Cultura no Caminho de Santiago. Cosmovisiones / Cosmovisões, 5(1), 55–63. https://doi.org/10.24215/26840162e003

Edição

Seção

Diário de bordo