Poluição luminosa e sua percepção em contextos rurais do centro-norte de Santa Fé, Argentina

Autores

  • Armando Mudrik Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Universidad Nacional de Córdoba, Argentina

DOI:

https://doi.org/10.24215/26840162e004

Palavras-chave:

produtores agropecuários, imigrantes europeus, etnoastronomia, poluição luminosa

Resumo

O presente trabalho aborda, sob a perspectiva da etnoastronomia, o estudo de “costumes” vinculados ao espaço celeste presentes entre produtores agropecuários descendentes de migrantes europeus ou “colonizadores”, estabelecidos em localidades e zonas rurais originadas como colônias agrícolas no centro-norte da província argentina de Santa Fé, desde a segunda metade do século XIX até meados do século XX. Particularmente aqui, e através de trabalho de campo próprio, investiga-se de maneira incipiente as relações com o fenômeno da poluição luminosa que atravessa a percepção do espaço celeste desenvolvida por esses produtores agropecuários. Essas relações se articulam fortemente com lógicas e esquemas tradicionais de classificação do celeste vinculados ao plano das tarefas produtivas dos atuais produtores e de seus antecessores migrantes, estabelecidos durante o citado processo de colonização na região. Essas maneiras tradicionais de organizar e estruturar sua percepção, experiência e representações do espaço celeste se caracterizam por um aspecto transversal: o estabelecimento de certas consonâncias entre fenômenos celestes e terrestres. De fato, sob essa perspectiva tradicional, o céu é apresentado como um espaço de sinais que devem ser lidos para determinar certas fases de atividades, processos ou fenômenos considerados relevantes no âmbito terrestre. E como nosso trabalho de campo demonstra, é em termos de sinais que certos aspectos da poluição luminosa presente nos céus da região aqui abordada são lidos. Portanto, a contribuição etnoastronômica desta comunicação permite mostrar como há uma continuidade importante nos hábitos que estruturam a base de percepções, representações e práticas vinculadas ao espaço celeste no contexto das atividades agropecuárias de nossos interlocutores, embora os fenômenos ou traços celestes a serem estruturados possam ter mudado ou sejam outros. Além disso, este trabalho evidencia de forma muito clara algo já também observado por outros autores: as tensões e conflitos que surgem ao tentar pensar, através da noção de patrimônio da UNESCO, o caráter dinâmico e múltiplo das concepções e práticas sobre o celeste, assim como a pretendida universalidade das valorizações em torno do fenômeno da poluição luminosa do céu. Nesse sentido, o conceito de patrimônio desses organismos internacionais tende a privilegiar uma conservação estática, sem mudanças. Isso implicaria pensar em termos de “perda” as mudanças culturais e sociais dadas por conjunturas históricas, como, por exemplo, as vinculadas a relações com novos traços do céu surgidos a partir da poluição luminosa. As formas tradicionais pelas quais o grupo social aqui abordado percebe determinadas manifestações de poluição luminosa não são parte de um processo de “aculturação”, mas sim verdadeiras criações culturais dadas em um contexto histórico particular.

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Publicado

2024-09-26

Edição

Seção

Diário de bordo

Como Citar

Mudrik, A. (2024). Poluição luminosa e sua percepção em contextos rurais do centro-norte de Santa Fé, Argentina. Cosmovisiones Cosmovisões, 5(1), 65-75. https://doi.org/10.24215/26840162e004