O que há de “planejado” na obsolescência planejada?

Uma leitura da obsolescência planejada a partir de A ideología da sociedade industrial de Herbert Marcuse

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24215/23143924e093

Palavras-chave:

obsolescência programada, Herbert Marcuse, tecnologia, consumo, racionalização

Resumo

A obsolescência planejada é geralmente entendida como uma estratégia empresarial-industrial planejada por monopólios e oligopólios no design técnico do produto para incentivar o consumo. Ao reduzir o seu tempo de uso efetivo, este se torna inutilizável (obsoleto) e converte-se em um descarte. No entanto, se considerarmos a perspectiva do filósofo Herbert Marcuse que, em sua obra magna A ideología da sociedade industrial: o Homem Unidimensional analisa a sociedade industrial avançada para expor um processo de racionalização tecnológica em diversos fenômenos socio-técnicos considerados em sua existência como racionais e necessários na produção e no consumo, a obsolescência programada se apresenta não apenas como um fato intencional de empresas dentro da produção industrial, mas também como uma tendência que se consolida como uma lei interna do processo produtivo que molda os hábitos dos consumidores. A materialização da racionalidade científico-técnica na produção e nos produtos de consumo encerra uma ideologia centrada na reprodução eficiente do sistema produtivo, que impede considerar a irracionalidade de consequências destrutivas como o descarte e a poluição – desde uma perspectiva sustentável – ao considerar a obsolescência programada como uma prática inevitável. A sociedade industrial avançada aprofunda certas lógicas de produção como determinações necessárias no produto fabricado, entre as quais se encontra impor uma data de validade no objeto para perpetuar o consumo; isso normaliza a obsolescência planejada como um subproduto necessário do progresso técnico e do crescimento econômico. O aparato técnico-produtivo reproduz uma forma particular de entender e construir o mundo técnico, e concretiza práticas unidimensionais que são vistas como inofensivas em relação ao consumidor. Mas a obsolescência planejada, como fenômeno sócio-técnico, promove uma certa sensibilidade e hábito de pensamento relacionados ao uso e descarte, de acordo com o consumo como modo de produção e a racionalização do sistema técnico-industrial.

Referências

Bulow, J. (1986). An Economic Theory of Planned Obsolescence. The Quarterly Journal of Economics, 101(4), 729-750. https://doi.org/10.2307/1884176

Cupani, A. O. (2018). Sobre la dificultad de entender filosóficamente la tecnología. ArtefaCToS. Revista de Estudios Sobre la Ciencia y la Tecnología, 7(2), 127. https://doi.org/10.14201/art201872127144

Durkheim, E. (2013). La división del trabajo social. Minerva.

Feenberg, A. (2005). Teoría crítica de la tecnología. Revista Iberoamericana de Ciencia, Tecnología y Sociedad - CTS, 2(5), 109–123.

Farjat, M. J. G. (2021). Reflexiones acerca del papel de la tecnología en el pensamiento marcusiano en el marco de la sociedad industrial avanzada. Revista Tecnologia e Sociedade, 17(47). https://doi.org/10.3895/rts.v17n47.11064

Fisher, M. (2018). Realismo capitalista. ¿No hay alternativa?. Caja Negra.

Griziotti, G. (2017). Neurocapitalismo: Mediaciones tecnológicas y líneas de fuga. (1ª ed.). Melusina.

Horkheimer, M. (2002). Crítica de la razón instrumental. Trotta.

Hui, Y. (2020). Fragmentar el futuro: Ensayos sobre tecnodiversidad. Caja Negra.

Kant, I. (1996). Fundamentación de la metafísica de las costumbres. Ariel.

Latouche, S. (2018). Hecho para tirar: la irracionalidad de la obsolescencia programada. (1ª ed.). Octaedro.

London, B. (1932). Ending the Depression Through Planned Obsolescence. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/27/London_%281932%29_Ending_the_depression_through_planned_obsolescence.pdf

Marcuse, H. (1969). La sociedad industrial y el marxismo. Quintaria.

Marcuse, H. (1983). Eros y civilización. Sarpe.

Marcuse, H. (1993). El hombre unidimensional: Ensayo sobre la ideología de la sociedad industrial avanzada. Planeta-Agostini.

Martínez, A. N. y Porcelli, A. M. (2017). Consumo (in)sostenible: Nuevos desafíos frente a la obsolescencia programada como compromiso con el ambiente y la sustentabilidad. Ambiente y Sostenibilidad, 6(2016), 105–135. https://doi.org/10.25100/ays.v0i0.4294

Noro, J. E. (2021). De la obsolescencia programada a la contingencia ontológica. Cuenca - Coloquio, 21(66), 11–27.

Taylor, C. (2014). Hegel y la sociedad moderna. (1ª ed.). Fondo de Cultura Económica.

Weber, M. (2008). El sabio y la política. Universidad Nacional de Córdoba-Encuentro.

Publicado

2024-12-19

Edição

Seção

Artículos

Como Citar

Alincastro, A. (2024). O que há de “planejado” na obsolescência planejada? Uma leitura da obsolescência planejada a partir de A ideología da sociedade industrial de Herbert Marcuse. Hipertextos, 12(22), 093. https://doi.org/10.24215/23143924e093